segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Desafios


Longe vão os tempos do futebol a que esta imagem se encontra
associada.
Tempos em que os rigores eram diferentes e normalmente eram
movidos pela paixão e a emoção.
Hoje o futebol é uma indústria e como todas encontra-se inserida
num universo globalizado de competências e interesses, os quais
se movimentam de acordo com lógicas mercantilistas.
É tempo de se encontrarem novas competências e regras para o futebol,
compativéis com o rigor do espectáculo pretendido.

Um derby, dois jogos e uma dura realidade...


1. Dois jogos distintos num único derby, houve claramente dois jogos e tempos distintos.

Primeiro jogo e tempo durou até ao minuto 70, domínio do Sporting, principais oportunidades de golo (várias) foram da equipa verde, pelo domínio exercido, por vezes, até parecia que os leões jogavam em casa. O Sporting só tem, neste período, que se queixar de si própria e da displicência como finalizou as oportunidades criadas e finalmente da lentidão que imprimiu ao seu jogo, até parecia que os forasteiros estavam a jogar para o empate e se calhar até é verdade. Do outro lado (Benfica) uma equipa banal que por vezes aos solavancos lá ia fazendo pela vida.

Foi justamente num desses solavancos que a equipa da casa marcou e iniciou o segundo jogo e outro tempo, claramente distinto do primeiro. Durou 20 minutos e estes foram encarnados e justificaram a vitória do SLB.

Para fechar este registo, dizer que o SCP deve rever a excessiva dependência de Rochemback e procurar jogar mais rápido e já agora não se preocupar tanto com aquilo que os jornais desportivos comentam a seu respeito. Desses, há muito que sabemos que preferem o solavanco.

2. E é no solavanco e na sua sustentabilidade que ficamos, para dizer que vamos na 4ª jornada da principal LIGA de futebol portuguesa e que nada mudou relativamente ao passado e que este foi e é cada vez mais preocupante: (a) salários em atraso; (b) sobre endividamento dos Cubes e SADES; (c) planteis preenchidos por estrangeiros de baixa qualidade; (d) fraquíssima afluência de público nos estádios.

Efectivamente, ao mesmo tempo que a crise económica se avoluma e ela própria se globaliza os seus efeitos generalizam-se e o futebol como importante indústria que é ressente-se e agudiza as suas fragilidades. Hoje é possível dizer que na Europa (paradigma do futebol mais rico e competitivo) se instalou a crise a qual tem vindo a acentuar as suas desigualdades competitivas, designadamente no aumento do fosso entre as ligas mais ricas – Inglaterra, Espanha, Itália, França, Alemanha e Rússia – e as mais pobres – Roménia, Grécia, Portugal Holanda, Escócia e Irlanda, entre outras. Fosso competitivo que tem aumentado no interior das próprias ligas. Um exemplo disso é a realidade inglesa em que o M.United, Chelsea, Arsenal e Liverpool tem hoje um potencial competitivo muito superior aos restantes clubes britânicos.

O caso português é ainda mais gritante porquanto o fosso é ainda maior, de um lado o FC Porto, Sporting e Benfica, e depois os outros a uma distância patrimonial e desportiva abismal. O nosso caso tem ainda outra particularidade que é a de que os chamados grandes estão, eles também, a atravessar um período dificílimo.

Nesta conformidade é legítimo dizer que a crise veio destapar o problema e colocar novos desafios competitivos e organizativos. No futuro queremos uma indústria mais equilibrada, homogénea e mais atractiva do ponto de vista do espectáculo.




segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Apontamentos - época futebolistica 08/09

1. Habitualmente no chamado defeso alguma imprensa desportiva especializada publica, com algum detalhe, informações sobre: os novos planteis e respectivas equipas técnicas (entradas e saídas); os valores gastos com aquisições e vendas dos passes dos atletas; os orçamentos disponíveis para a nova época, etc. Foi precisamente o que aconteceu para esta época – recentemente iniciada – 2008/2009 e mais propriamente para as duas principais ligas do nosso futebol profissional.
Justamente a Liga Sagres (I) e a Liga Vitalis (II).

Sobre os dados recolhidos e após algum tratamento adequado dos mesmos, passo a descrever algumas notas:

Liga Sagres (I)

(a) A principal liga é composta por 16 clubes, com uma distribuição geográfica concentrada no Norte (9), Centro (5), incluindo Lisboa e Setúbal. A região autónoma da Madeira está representada por 2 equipas. O sul do país e a região autónoma dos Açores, mais uma vez, não se encontram representadas na principal liga de futebol;

(b) Fazem parte dos 16 clubes 403 atletas. Os planteis encontram-se constituídos por 23 atletas (5 clubes), 24 (1 clube), 25 (2 clubes), 26 (4 clubes), 27 (2 clubes), 28 (2 clubes);

(c) Dos 403 atletas, 196 (49%) são portugueses, 207 (51%) são estrangeiros;

(d) Dos 196 atletas portugueses presentes, 64 são provenientes do futebol formação. Os clubes que mais participam com atletas da formação são SCP com 9, FCP com 7 e E/Amadora e Rio Ave, ambos com 8;

(e) Dos atletas estrangeiros (a maioria) destacam-se os brasileiros com 130 e restantes nacionalidades com 77;

(f) Dos 16 treinadores presentes, 12 são portugueses e 4 são estrangeiros (3 brasileiros e 1 espanhol);

(g) Para esta época entraram para os clubes da I Liga 171 novos atletas (42% do total), portugueses foram 70, de outras nacionalidades 101. Os clubes que mais se destacaram foram o Nacional, E/Amadora, Belenenses (cada com 16 novos atletas), o Marítimo (15), o SLB (14) e finalmente o FCP (11). Ao invés o Sporting destacou-se como o clube que menos adquiriu (5);

(h) O SLB destaca-se, no valor despendido com as aquisições, com 23 M.€, o FCP com 20 M.€ e o SCP com 9 M.€. Em termos de vendas destaca-se apenas o FCP com cerca de 40 M.€;

(i) As 16 equipas, em termos orçamentais, prevêem gastarem para a época 2008/2009 cerca de 152,5 M.€. Os três grandes concorrem para este valor com 79% designadamente, o SLB e o FCP com 40 M.€ cada um, e o SCP com 25 M.€;

(j) O número de adeptos filiados nos clubes atinge os 508.187, estando 81% destes concentrados em quatro clubes designadamente, SLB (173.858), FCP (109.000), SCP (95.000) e finalmente o V.Guimarães com 30.000;

(k) A previsão de mais um ano de fraca afluência de público nos estádios. Em média, não se prevê que se ultrapassem as 10.000 pessoas por jornada.

Liga Vitalis (II)

(1) A liga secundária é também composta por 16 clubes, com uma distribuição geográfica concentrada no Norte (10), Centro (3), Sul (2), e região autónoma dos Açores (1);

(2) Fazem parte dos 16 clubes 375 atletas. Os planteis encontram-se constituídos por, 18 atletas (1 clube), 20 atletas (1 clube), 21 atletas (1 clube), 22 atletas (2 clubes), 23 atletas (3 clubes), 24 (2 clubes), 25 (3 clubes), 26 (2 clubes) e 28 atletas (1 clube);

(3) Dos 375 atletas, 270 (72%) são portugueses, 105 (28%) são estrangeiros;

(4) Dos 270 atletas portugueses presentes, 34 são provenientes do futebol formação;

(5) Dos 16 treinadores presentes, todos são portugueses.

As notas anteriormente referidas permitem, após alguma reflexão, que se chegue a algumas conclusões, designadamente e de forma sintética:

Ao nível de clubes algumas regiões do país não se encontram representadas na principal liga de futebol profissional. O Alentejo, Algarve e região autónoma dos Açores não se encontram representadas e assim desvirtuam, de alguma forma, o princípio da representatividade que deve estar, sempre, associado a esta competição;

- Mais de metade dos atletas (207) que participam na Liga Sagres (I Liga), são estrangeiros, facto que contribui fortemente para a descaracterização da competição e qualidade final desta;

- A dinâmica das contratações dos atletas para a I Liga, na sua maioria, pertencentes a outras nacionalidades e a outros futebóis tem afectado negativamente todo o mercado formativo interno. Ao privilegiar-se o mercado exterior de contratações, compromete-se fortemente a dinâmica interna de criação de talentos. Esta situação agrava-se ainda mais pelo facto de os nossos principais talentos jogarem, actualmente, em ligas estrangeiras. A médio prazo esta dinâmica irá pôr em causa a nossa própria forma de jogar.

- Em termos orçamentais, o volume financeiro associado encontra-se fortemente concentrado nos chamados três grandes, que representam, entre si, 79% do valor total;

- Em termos de associados a grande maioria (81%) encontra-se filiada nos três grandes;

- A fraquíssima afluência de público nos estádios. Com excepção dos chamados três grandes, normalmente, a média de público nos estádios da I Liga não chega aos 6 mil espectadores/ por jogo;

- A existência de um fosso enorme ao nível económico/financeiro, desportivo e competitivo, entre a I e a II Liga.

- O agravamento progressivo da saúde económica e financeira da generalidade dos clubes desportivos em Portugal;

As conclusões agora descritas permitem-nos ainda dizer que a realidade do futebol profissional em Portugal é bastante preocupante. Como muito bem disse recentemente Jorge Valdano, o futebol é a metáfora de uma sociedade com grandes desequilíbrios económicos.

Por isso é urgente encontrarem-se soluções organizativas, económicas e financeiras e competitivas que permitam sair desta preocupante situação.

Nesta perspectiva é hoje consensual que as soluções terão que passar, inevitavelmente, por se assumirem atitudes inteligentes, inovadoras e que, no seu conjunto, estas sejam financeiramente e politicamente aceitáveis e sustentáveis.

2. Em conformidade e no sentido da sua efectiva resolução constata-se que algumas das questões aqui colocadas poderão ser abordadas, estudadas e resolvidas no âmbito da nossa selecção, ou melhor ao nível das diversas selecções de futebol – escalões jovens e seniores.

A selecção pode e deve ser: (a) o nosso principal centro de formação
(atletas, técnicos e dirigentes); (b) o nosso principal centro de prospecção e desenvolvimento da modalidade junto dos clubes; (c) o principal centro aglutinador e dinamizador das dinâmicas desportivas e competitivas.

Pelo seu passado, competência e experiência e fundamentalmente pelo seu presente - muito mais amadurecido - o professor Carlos Queirós é a pessoa que reúne as melhores condições para iniciar todo este trabalho árduo e gigantesco. Precisa de tempo, fundamentalmente TEMPO E MODO, os resultados virão depois como, de resto, já anteriormente vieram.

Portugal necessita, a todos os níveis, de bons gestores e Carlos Queirós tem competência e é um bom professor – que o diga Ferguson.


Nota: Com este texto inicio mais uma rubrica, esta integralmente
dirigida ao futebol, a qual expressará as minhas paixões e emoções.



Pedro Vieira (vyeyra@gmail.com)