terça-feira, 1 de setembro de 2009

Crise no SCP ou antes no Futebol em geral (?)


1 - Situação particular do Sporting

Na década de 90 o SCP estava praticamente falido.
Foi um grupo restrito de sócios do clube, liderados por Roquete que iniciaram a recuperação do clube. Criaram um modelo empresarial e um modelo competitivo assente no futebol de formação.
O projecto veio a dar os seus frutos económicos e desportivos – um novo estádio, um excelente Centro de Formação (Academia de Alcochete) alguns títulos ganhos nas diferentes categorias do futebol;
Não teve êxito, bem pelo contrário, noutros domínios importantes para o clube – sócios e modalidades desportivas.
Nos últimos dois anos a situação financeira do clube tem vindo a agravar-se (divida acumulado 240 M.€) um valor tolerável, dum ponto de vista de gestão, andará por volta dos 150 M. €.
A Depressão existente no plantel foi a principal responsável pelos maus resultados alcançados no início desta época. As principais causas da mesma (depressão) tiveram a ver com (1º) a forma injusta como a equipa perdeu a final da Taça da Liga, (2º) a forma como o treinador da equipa foi tratado disciplinarmente pela FPF e Liga de Clubes, (3º) a maneira conturbada como decorreram as eleições recentes no clube e em que a equipa técnica e jogadores foram, muitas vezes, postos em causa por alguns (poucos) adeptos.

O SCP é hoje um grupo complexo onde o futebol aparece como a sua principal área de negócio. A SAD, neste modelo empresarial, é um instrumento da sua gestão;

2. As SAD’s

O futebol na perspectiva das SAD’s é um negócio empresarial, como qualquer outro negócio é medido pelos resultados financeiros alcançados.
Este modelo que tem sido seguido pelas principais Ligas de Futebol encontra-se à beira da falência.

Na maioria das indústrias, um mau negócio vai à falência. No futebol, isso raramente acontece. Os clubes, ao contrário da maioria dos negócios, sobrevivem às crises porque os apoiantes continuam com eles independentemente da qualidade do produto.

Nota: Em 1923 a Liga Inglesa de Futebol era formada por 88 clubes. Passados 86 anos continuam a existir esses clubes. No mesmo período metade das 100 maiores empresas do mundo deixaram de existir, enquanto as outras mudaram de sector ou de localização.


3. Época 2009/2010

Para esta época os clubes europeus gastaram em aquisições de jogadores 1.500 milhões de euros. Estas aquisições foram feitas, maioritariamente, por um grupo restrito de clubes de que se destacam: R. Madrid; Manchester City; Inter de Milão.

Em termos de receitas – clubes e ligas europeias - reportamo-nos a 2007/ 2008, a situação é a seguinte:

- Os 10 principais clubes – R. Madrid, Manchester U., Barcelona, Bayer M., Chelsea, Arsenal, Liverpol, AC. Milan, AS Roma, Inter Milão – obtiveram receitas no valor de 3.043,8 M.€, as quais corresponderam a 39% da totalidade
das receitas (7. 727,0 M.€) das Ligas a que pertencem;

- As receitas (7. 727,0 M.€) obtidas pelas principais ligas europeias correspondem a 53% da totalidade das conseguidas na Europa dos Clubes (14.600,0 M.€).

Em Portugal o investimento em compras – época 2009/2010 – foi de 50 milhões de euros, assim distribuídos: FCP 21,1; SLB 24,1; SCP 3,6.
Em termos de receitas os encaixes foram os seguintes: FCP 66,6 M€; SLB 3,5 M€ e SCP 2 M€.

Em resumo: e no que diz respeito ao futebol profissional português, conclui-se:

Estar-se numa situação económica e financeira á beira da falência, profundamente em crise;
Causas – despesas exageradas, muito acima das capacidades, em média os clubes apenas conseguem cobrir, por época, cerca de 70% dos custos realizados / esgotamento do modelo empresarial assente nas SAD’s esgotamento do modelo competitivo / défices profundos no modelo identitário dos balneários / fortes índices de corrupção associados.


4. Cultura de irresponsabilidade

Os acontecimentos que ocorreram ultimamente num Hospital conceituado de Lisboa, em que seis doentes saíram cegos do bloco operatório, vieram revelar alguns comportamentos que reportamos de preocupantes. Com efeito, quer os profissionais envolvidos quer a direcção clínica, de imediato, vieram a público enjeitar responsabilidades.

Estas reacções evidenciam uma cultura de irresponsabilidade.

Infelizmente este não é um caso isolado na sociedade portuguesa, outros há de igual importância. O despesismo excessivo existente no futebol português é também fruto da cultura de irresponsabilidade existente nos principais clubes.


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