quinta-feira, 3 de junho de 2010

Bom senso e muito cuidado

Por hipótese (imagine-se) uma família que começou por comprar uma casa e a respectiva mobília e electrodomésticos, mais tarde um automóvel, tudo isto a crédito.
Para fazer face aos encargos (amortização e juros) e demais despesas do agregado (água, luz, vestuário, seguros, alimentação, etc.) o rendimento familiar tem sido suficiente e, com algumas dificuldades, ainda tem permitido o gozo de umas curtas férias.
Ela trabalha numa escola secundária, onde é professora, ele é um técnico especializado numa empresa têxtil.
Tudo junto, por vezes com algumas horas extraordinárias, por mês (líquidos), conseguem reunir para fazer face às despesas cerca de 2000 €.
Ainda não tem filhos, pensam mais tarde de forma responsável e sustentada vir a tê-los.
Pertencem, com orgulho, a uma classe média, a qual, por sua vez, se encontra inserida legitimamente num espaço sociológico, económico, cultural e politico democrático.
Em suma são cidadãos europeus e costumam pensar e dizer que os seus direitos de cidadania assentam em princípios organizacionais e políticos, onde a igualdade, solidariedade e justiça social se encontram consignados na carta fundamental dos direitos humanos.
Aprenderam, porque foram educados e instruídos para isso, a viver num estado social e por isso entendem a sua importância e essencialidade.
Para eles e para a maioria dos cidadãos com quem convivem diariamente, o estado social é o alicerce fundamental, o garante, essencial, ao funcionamento regular do estado de direito democrático.
Esse estado social foi uma conquista árdua e muito difícil dos europeus. Não aconteceu por acaso e resultou da inteligência dos homens posta ao serviço do desenvolvimento das sociedades.
A Europa criou e desenvolveu o estado social de forma natural e inclusa às suas necessidades de crescimento enquanto sociedade progressiva e equilibrada.
E aqui a expressão progressiva e equilibrada é fundamental para se entender a justiça social, a distribuição equilibrada da riqueza, os direitos fundamentais da cidadania e os fundamentos essenciais do estado democrático de direito (separação de poderes).
Tudo isto para funcionar exige muitos recursos, muitas competências, em suma custa muito dinheiro.
Por isso os produtos, os serviços tem um custo elevado.
Por isso os ordenados tem que ser compatíveis.
Ao abrirmos, nós europeus, as fronteiras à livre circulação de pessoas e bens e ao respeitarmos as orientações de abertura dos mercados internacionais de mercadorias fizemos o que tínhamos que fazer, apostámos mais uma vez no desenvolvimento e com isso esperávamos que os outros progredissem. Apostámos de forma, descomplexa, na globalização e acreditámos que os outros viessem a acreditar o mesmo que nós, i/é, no estado social e no estado de direito democrático.
Fomos solidários e porventura generosos demais, não fizemos o trabalho de casa necessário e agora estamos em dificuldade.
Para complicar as coisas, alguns desesperados salvadores e como sempre fatalistas, querem fazer-nos acreditar que o custo com a manutenção do estado social é a razão fundamental da crise que estamos a viver. Para a enfrentar (dizem) temos que diminuir o custo com a manutenção do estado social.
Puro engano, para a enfrentar e atacar temos, urgentemente, que nos entender politicamente e assim encontrarmos as formas colectivas de protecção desse mesmo estado social.
Vai dar muito trabalho, mas já nos desenvolvemos o suficiente, para compreendermos que a solução do problema está nas nossas mãos e na nossa competência para defendermos os legítimos direitos do casal que referimos no inicio.

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