terça-feira, 11 de junho de 2024

O meu 25 de abril

Igual a todas as manhãs: levantar – passar a água fria (gelada) pela cara e pelo cabelo – e arrancar com os livros pendurados e escolhidos, previamente, no dia anterior. Era a rotina estabelecida que começava às 8 horas e terminava, normalmente, às 17 horas, cinco dias por semana, por vezes com alguns acertos aos sábados. O caminho até às aulas era feito em silêncio, às vezes interrompido por uma brincadeira ou então por alguma surpresa feminina, agradável e desejável. E foi assim também naquela manhã fria e coberta de nuvens e sobretudo envolta numa humidade enorme. Tudo se repetia – não havia novidades. Mas naquele dia fomos surpreendidos, aparentemente, a escola estava encerrada e ao fim de algum tempo foi-nos dada a indicação, sem grandes explicações, que poderíamos regressar a casa e que oportunamente chegariam novas orientações. A partir daí a evoluções das coisas foi vertiginosa, a massificação e a participação social e cultural tomou conta de nós. Começámos a ser tratados como novos homens e mulheres. Novos tempos – palavras novas. Como escrevia o poeta: … Viemos com o peso do passado e da semente, Esperar tantos anos torna tudo mais urgente, E a sede de uma espera só se estanca na torrente. … Vivemos tantos anos a falar pela calada, Só se pode querer tudo quando não se teve a nada, Só quer a vida cheia quem teve a vida parada. … Só quer a vida cheia quem teve a vida parada. … Ai, só há liberdade a sério Quando houver: ... A paz, o pão Habitação, saúde e educação, Só há liberdade a sério quando houver Liberdade de mudar e decidir. … Quando pertencer ao povo o que o povo produzir.

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